Epicentro da pandemia de Covid-19 (doença causada pelo novo coronavĂrus), Dourados enfrenta situação crĂtica na saĂșde. Em um mĂȘs, os casos aumentaram 2.127% na cidade, que também recebe pacientes de cidades da região.
Durante sessão desta quarta-feira (17) da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso do Sul (Alems), o deputado estadual José Carlos Barbosa, o Barbosinha (DEM) apresentou em requerimento dados conflitantes sobre o nĂșmero de leitos. Segundo a Secretaria de Estado de SaĂșde (SES), existem 48 leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em Dourados.
Mas conforme o deputado, esse nĂșmero não representa a realidade atual. "Verificamos no fim de semana que todos os 17 leitos disponĂveis estavam ocupados. Na segunda, eram 28 leitos. Tem 20 leitos do Hospital da Vida que não podem ser usados por pacientes com Covid-19, apenas para casos de urgĂȘncia e emergĂȘncia", relatou.
Barbosinha frisou que existem equipamentos armazenados para habilitar novos leitos. "Existem dez leitos pendentes, dez respiradores, mas não tem monitores. [...] Pessoas irão morrer sem respiradores se não tiver tomada de providĂȘncias urgentes", disse. Em seguida, o deputado alertou que a situação pode piorar.
"A situação em Dourados é extremamente preocupante. É preciso ações imediatas e concatenadas. Não é hora de apontar culpados, o governo e a prefeitura precisam se unir para evitar o colapso e enfrentar o nĂșmero crescente de casos", finalizou.
CRISE
Autoridades ouvidas pelo Correio do Estado apontaram que problemas crônicos no setor mais importante durante uma pandemia, o de vigilância em saĂșde, a baixa adesão da cidade às medidas de isolamento e nichos que impulsionaram a multiplicação dos diagnósticos positivos explicam o avanço da Covid-19 na cidade.
A resposta da prefeitura de Dourados ao crescimento de 2.127% de casos em apenas um mĂȘs tem sido insatisfatória, queixam-se autoridades ligadas ao governo de Mato Grosso do Sul e a órgãos de defesa da sociedade, como o Ministério PĂșblico do Estado (MPMS). Eles consideram que a cidade estĂĄ à deriva, sobretudo, por causa da escassez de ações preventivas, como por exemplo, a insuficiĂȘncia de equipamentos de proteção individual aos funcionĂĄrios da SaĂșde e AssistĂȘncia Social, e pela falta de controle sobre as pessoas que são diagnosticadas com doença.
HĂĄ exatamente 1 mĂȘs, Dourados tinha 58 casos de coronavĂrus confirmados e, dentre eles, um óbito. Ontem eram 1.292 pessoas com Covid-19, sendo que cinco delas, jĂĄ mortas.
O governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), que evitou falar sobre a situação em Dourados depois da disparada dos casos, disse ontem que a decisão sobre lockdown (fechamento total) caberia à prefeita da cidade, Délia Razuk (PTB), e que o melhor caminho para o municĂpio seria a união de esforços.
"Tivemos reunião hoje com o Ministério PĂșblico estadual, com a prefeita Délia e sua equipe, vamos buscar ações conjuntas e coordenadas", disse Azambuja.
A falta de transparĂȘncia da prefeitura de Dourados no setor de vigilância em SaĂșde motivou a desconfiança de integrantes do Ministério PĂșblico de Mato Grosso do Sul, com a forma displicente que o municĂpio trata as pessoas com Covid-19 não consideradas recuperadas. Ontem, eram 866 nesta situação.
"HĂĄ quebra de quarentena, muitas delas estão circulando livremente, sem qualquer fiscalização, e sem usar mĂĄscara", denunciou uma autoridade que tem acesso às investigações, na condição de não ter sua identidade revelada.
Correio do Estado