Comunidade acadêmica reclama de intervenção na UFGD

Comunidade acadêmica reclama de intervenção na UFGD

A Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) passa por um processo de intervenção do Ministério da Educação desde o dia 11 de junho de 2019, quando Mirlene Ferreira Macedo Damázio foi nomeada reitora pro tempore (em caráter temporário). No último dia 8 de fevereiro, a instituição teve uma nova intervenção, com a dispensa da professora do cargo e a nomeação de Lino Sanabria como novo reitor pro tempore.

Eleito reitor, Etienne Biasotto aguarda há quase dois anos a sua nomeação na universidade. Ele foi o mais votado pela comunidade acadêmica em consulta prévia e também o mais votado no colégio eleitoral da UFGD, encabeçando a lista tríplice, que ainda tem os nomes dos professores Jones Dari Goettert e Antonio Dari Ramos. Nenhum deles tomou posse do cargo de reitor da UFGD. O Governo Federal vetou a lista elaborada pela universidade de Dourados e, segundo o Sindicato Nacional Dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), já interferiu em mais de 20 instituições federais, nomeando candidatos que não estavam em primeiro na lista tríplice e até mesmo nomes que não participaram do processo de escolha das instituições, como acontece pela segunda vez com a UFGD.

Instabilidade

Essas interferências têm gerado instabilidades nas instituições de ensino. Na UFGD, não é diferente. Etienne tenta na justiça a sua nomeação como reitor da universidade. O MEC alega não ter nomeado um nome da lista baseado em uma contestação do Ministério Público Federal (MPF) sobre a consulta realizada para escolha do reitor na UFGD. A Justiça de Dourados rejeitou as alegações, assim como o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3), por meio da decisão do desembargador Nery da Costa Júnior, que descartou a realização de novas eleições e requereu a nomeação através da lista tríplice. Nesta semana, após a segunda intervenção, Biasotto pediu ao desembargador que defina um prazo para que o Governo Federal faça a nomeação a partir da lista tríplice.

A comunidade acadêmica da UFGD tem se manifestado contrário às intervenções do Governo Bolsonaro em relação a reitoria da instituição. Em nota conjunta, o Sindicato dos Professores da UFGD (AdufDourados), o Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Instituições Federais (Sintef Dourados), a Associação dos Pós-graduandos da UFGD (APG-UFGD) e o Diretório Central dos e das Estudantes da UFGD (DCE-UFG), manifestaram surpresa e repudiaram a nova nomeação de reitoria pro tempore, afirmando que "o Governo Bolsonaro insiste na ideia de ignorar a lista tríplice".

Segundo a nota divulgada pelas entidades, "no final do ano de 2020, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região intimou a interventora Mirlene Damázio para enviar a lista tríplice para o MEC, mas o governo Bolsonaro, que demonstrou não ter apreço pela democracia, continua nomeando seus aliados para dirigir os institutos e as universidades federais. Sabemos também que grupos políticos locais se articulam com o governo para manter a intervenção e controlar a universidade de acordo com seus interesses". Ainda de acordo com a publicação, "a gestão interventora foi marcada pela defesa de reingresso de alunos fraudadores das cotas raciais, esvaziamento das decisões coletivas e democráticas das instâncias deliberativas, autoritarismo, intervenção na direção da Faculdade de Educação, polícia na reitoria para coibir a participação da comunidade acadêmica, imposição do Regime Acadêmico Emergencial (RAE) e pelo total alinhamento com o Governo Bolsonaro".

Repercussão da posse

A publicação da posse de Lino Sanabria nas redes sociais oficiais da UFGD teve muitas reações negativas. A grande maioria dos comentários também são repudiando a continuidade da intervenção na universidade. "Muito triste o que vem acontecendo na UFGD", diz um dos comentários. "Trocou 6 por meia dúzia. Essa intervenção precisa acabar", escreveu outro seguidor da página. "Gente, esse professor não se candidatou e não teve voto. Como pode receber a posse se não participou da consulta prévia? Eu votei e elegi o Prof. Ethienne e quero respeito com a UFGD", disse uma professora. Outro docente afirmou que "a democracia vive seus piores dias na UFGD. Voltamos ao período dos coronéis, que mandam e desmandam sobre os espaços públicos". "E a reitoria eleita toma posse quando?", questionou um aluno. Outro comentário indagou o novo reitor pro tempore: - "Lino, você conversou com a comunidade antes? Ou melhor, você se candidatou a reitor? Como você chegou até aí? Pode explicar pra gente?".

O professor da UFGD Tiago Botelho escreveu: - "A UFGD vive seu pior momento. Sai uma interventora e entra outro interventor. Há uma decisão judicial que valida a lista tríplice tanto na Justiça Federal quanto no TRF3. Quer ser reitor seja de direita ou esquerda? Se candidate e tenha voto. O reitor democraticamente eleito se chama Etienne Biasotto. A UFGD é maior que qualquer interesse pessoal e superará esse momento horrível".